sexta-feira, maio 21

QUANDO A ALMA CHEIRA A TALCO

A arte da interpretação sempre me empolgou. Sou capaz de assistir a um filme ou a uma peça teatral ruim se contar com boas atuações. O mistério da corporificação de um personagem me deixa ligadão, num quase transe. Para mim, a grande interpretação é aquela que nos faz ver, sentir, compreender – cada um ao seu modo – o personagem, porém, sem perder o foco na figura do intérprete.

Acredito que o bom profissional da interpretação deve ter esse controle de ser outro, sem deixar de registrar a sua presença cênica. Este talvez seja o grande segredo dos atores e atrizes talentosos.

É, porque intérpretes que ao ceder seus corpos e suas emoções para fazer existir os personagens, se não exercem esse controle, incorrem no erro de lhes outorgar excessiva autonomia e no risco de perder a medida exata, a batida perfeita.

Numa visão bastante simplista, considero que existam três principais tipos de atores:

1 – O mau ator. Aquele que nos deixa envergonhados e constrangidos fazendo-nos sentir pena e nos deixando aflitos para vê-lo fora de cena (ou melhor, para não vê-lo em cena nunca mais);

2 – O ator medíocre. Aquele que não chega a nos afligir, mas que também não consegue nos emocionar ou envolver (a televisão está repleta de atores desse nível, muitos deles saídos diretamente do "almoxarifado" de Malhação da Rede Globo, belos e viçosos como deuses do Olimpo);

3 – O bom ator. É aquele acima descrito. Ele é, antes de tudo, um profissional da arte e, nesse sentido, para ele, não existem personagens ruins, apenas uns "menos bons" que outros. É o tipo que costuma "roubar a cena". Com um bom roteiro e uma boa direção esse profissional é facilmente catapultado ao verdadeiro estado da arte.

Tudo isso me ocorreu ao ver Marília Pêra em uma cena boba de uma nova série Global. Estava apenas passando diante da televisão, quando bati os olhos na cena e bum!... Fiquei hipnotizado pela desenvoltura, pelo talento, pelo savoir faire da atriz, mesmo numa seriezinha de televisão, com um texto que Shakespeare, por exemplo, não assinaria jamais (que me perdoe o Falabella).

Existe algo de mágico, de absurdo, de paranormal e até mesmo de anormal na grandiosidade das boas atuações. É sensacional percebermos que ali está um profissional competente, talentoso, com pleno domínio das técnicas de interpretação e que com total despreendimento veste-se de um personagem à palavra ação!, e o despe de idêntica forma ao grito de corta! Ou, no caso do teatro, ao abrir das cortinas e ao seu fechamento.

Claro que nem sempre esse despir-se é assim tão fácil. A própria Marília Pêra relata que, ao gravar a minissérie "O Primo Basílio", na qual interpretava a amarga e malévola criada Juliana, precisou de suporte psicológico para arcar com o peso do personagem.

Costumo dizer que o bom intérprete é aquele que nos faz sentir ser contaminado pelo cheiro do talco impregnado na sua alma, tal como no bumbum do bebê.

 

2 Comentários:

Blogger Denis disse...

Taí! Boa profissão pra vc!!!

domingo, 23 maio, 2010  
Blogger Ari disse...

E eu não já tentei, menina?!... O maior canastrão! Tipo de só conseguir ser melhor do que o cigano Igor, saca?

domingo, 23 maio, 2010  

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