domingo, novembro 2

VIVA ZAPATA!


Quando era criança, assisti um filme americano que mostrava um enterro diferente. Era de uma negra, o caixão era azul e o féretro era acompanhado por música. Achei decente.

Mais tarde, quando tomei conhecimento da visão da morte na cultura oriental, achei bastante interessante. Em um dos episódios do filme Sonhos, do genial Kurosawa, tem uma cena de um enterro de dar água na boca.


No ocidente, fortemente na concepção católica, a morte tem uma conotação de castigo, de acerto de contas, de dor, de perda e desespero. É a hora do vamos ver. Aquele momento em que, em tese, você vai ficar sabendo o destino do bilhete de passagem: os flocos de algodão do céu, o chove e não molha do purgatório, ou as chamas do inferno.

Dessa forma, não tem como não se ter medo daquela figura esquálida, vestida de preto e com uma foice na mão, pronta para ceifar, com um golpe certeiro, o nosso bem maior.

O individualismo que permeia a cultura ocidental sinaliza para a busca de uma existência longa e confortável e a morte representa o grande estorvo que vem para cortar o barato. Já na visão oriental, a morte é encarada como uma transformação necessária e indispensável para a evolução do espírito.

Sem dúvida, deve ser bem mais aprazível esse morrer oriental.

Mas, curiosamente, é no ocidente, mais exatamente no México, que encontramos uma das formas mais sui generis de se encarar a morte e a relação dos vivos com os seus mortos, que tem no Dia de Finados a sua data maior.

Herança de antigos povos indígenas que acreditavam que os mortos voltavam anualmente para visitar seus entes queridos, a comemoração do dia 2 de novembro é uma grande e bela festa no México.

Nesse dia, os mexicanos fazem uma verdadeira farra nos cemitérios regada a muita comida, bebida e alegria.

As casas recebem esmerada decoração, geralmente inspirada nos túmulos, com altares onde, além das imagens dos santos (destaque para Nossa Senhora de Guadalupe), são colocados fotos e instrumentos de trabalho e diversão dos parentes mortos. Tudo muito colorido, com predominância da cor amarela. Os amigos e parentes fazem verdadeira romaria de casa em casa, comendo, bebendo e se divertindo.

As igrejas e os cemitérios também são decorados com esses verdadeiros altares naif.

Na culinária, o carro chefe é o "Pão dos Mortos", um pão doce em formato de osso.

"No dia 2, data dedicada à lembrança dos finados, bem de manhã, todos se encaminham aos cemitérios, levando flores e alimentos em clima de alegria e de camaradagem. Não há choro nem sinais de luto, mas somente de festa e alegria. O povo vai ao cemitério para ficar em companhia dos mortos, como se estes estivessem vivos e participassem da comemoração. Sobre os túmulos se reza, come-se, bebe-se e se festeja. A morte não assusta e o cemitério se transforma numa grande praça de alegria com cantos, música e danças."


(http://web.fla.matrix.com.br/jung/revista/morte.htm)


Curioso é que, tradicionalmente, o povo mexicano tem uma característica de sentimentalismo exacerbado. Daí, a expressão "dramalhão mexicano". Entretanto, com relação ao culto aos seus mortos, eles podem até ser exagerados, mas nem um pouco dramáticos.


E viva Zapata!

7 Comentários:

Blogger Unknown disse...

muito bacana

domingo, 02 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

Pois então, nunca consegui entender essa manifestação dos mexicanos. É úm tipo tragicõmico. Quem sabe um dia ainda irei lá para sentir de perto isso tudo.
E dias atrás assisti novamente Sonhos! Para mim o quadro do enterró é o que mais me chama no filme. Belíssimo!

domingo, 02 novembro, 2008  
Blogger Ari disse...

Quero ir tb. Vamo?
Desde que descobri essa manifestação que fiquei ligado.

domingo, 02 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

Borá lá! Anos atrás recebi umas fotos de uma amiga que andou por lá e fiquei perplexa. Agora, meu vizinho do lado está num doutorado e passa temporadas no México. Trouxe mais dados e fotos e fico cada dia mais tonta. Tem algo de macabro e gozador na cultura mexicana. E algo aí que me assusta e eu ainda não parei pra pensar o q é!

segunda-feira, 03 novembro, 2008  
Blogger Ari disse...

Vizinho do lado, é Ró?... Ai, ai... Quem é esse cara?... rsss

segunda-feira, 03 novembro, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

KKKKK! Menos Ari...o conheço desde as fraldas e não sou assaltante de berço!

segunda-feira, 03 novembro, 2008  
Blogger Ari disse...

Ahhh... bom... rsss

terça-feira, 04 novembro, 2008  

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