segunda-feira, outubro 27

MORREU AÍ

Tem gente que costuma afirmar com orgulho que não pensa na morte, julgando-se, com isso, uma pessoa "pra cima", alto astral.
Sei não. Esse não pensar na morte parece-me mais uma estratégia de se driblar a possibilidade de enfrentamento de tema tão difícil e tão doloroso e, conseqüentemente, de se perder enormes oportunidades do mais profundo filosofar.Quando deixamos de pensar na morte, seja ela como a "instituição" genérica e democrática que é, ou, então, na nossa própria morte, estamos deixando escapar um importante gancho de reflexão a respeito da vida, do universo, da humanidade e, sobretudo, a respeito de nós mesmos.Na cultura ocidental, principalmente, pactuou-se que a morte não importa, não existe. Ou, então, que existe mas não importa. O que importa é viver.
Eu até concordo que o importante é viver, como bem o disse Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver."
Mas, creio eu – pretensiosamente, concordando com Heidegger no seu conceito do
Dasein, que o mistério do existir é inerente à condição humana, sendo parte mesma do seu cotidiano. Somente dessa forma, o homem poderá ser "aquele ente que existe compreendendo o ser e que por isso pode interpretar de uma certa maneira a si mesmo e ao mundo". É assim, então, que, na concepção heideggeriana, o homem se constitui no ser-para-a-morte. Não necessariamente de forma tão trágica e fatalista quanto pretende a abordagem do pensamento existencialista, mas, sendo a morte um mero (e inevitável) fenômeno da existência humana. "A morte como um acontecimento humano existencial". É mais ou menos essa a concepção da morte do ponto de vista fenomenológico-existencial.
"Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer", diz o texto bíblico. E todo ser humano com um mediano nível de razão tem plena consciência desse fato.
Então, por que não pensar na morte? Por que temê-la simplesmente, sem ao menos considerá-la?
Quando somos crianças, os monstros escondidos debaixo das nossas camas ou perfilados junto à parede ficam mais terríveis e ameaçadores na exata proporção do nosso medo e da nossa falta de coragem de encará-los. Quando os encaramos descobrimos que, sob a cama, não existe nada além dos nossos sapatos, e que aquela figura macabra próxima à parede é apenas o cabideiro com roupas dependuradas.
Feliz ou infelizmente, com a morte não é bem assim. Ao contrário dos monstros criados por nossa fantasia infantil, ela existe, sim. Mas, será ela essa coisa monstruosa e aterradora que insistimos em conceber?
O matemático e pensador francês Blaise Pascal (1623-1662) afirmou que a imensidão infinita do Universo o apavorava. E o que é a morte senão um mergulho nessa misteriosa imensidão infinita que pode tanto ser o tudo como, também, o nada?
Fato é que, mistério dos mistérios, a morte é o destino inexorável de todo os seres vivos. Será um simples fim, tipo FUI?... Um recomeço?... Uma continuação?... Um sonho?... Ou, quem sabe, apenas um pit stop básico?... Será a vida, em verdade, a morte e/ou vice-versa?... Como dizia um amigo que já "mergulhou": "Sabará Jesus!..."
No mais, é buscar viver a vida confiante naquilo que diz a sabedoria popular:

"teme mais a morte quem mais temeu a vida".
Inclusive porque, "quem tem medo de cagar não come".

6 Comentários:

Blogger Marcus Gusmão disse...

Primeiro, seu texto "aviveu" porque eu passei o cursor em cima. Mistério?
Segundo, não gosto de pensar na morte, mas tenho pensado muito, na minha, na alheia, mas com uma saudade imensa do tempo em que todos éramos irmotais, coisa de quem tinha 17, 18 anos.

segunda-feira, 27 outubro, 2008  
Blogger Ari disse...

rssssssss Coisas inexplicáveis huummmm
Sinto saudades também daquela "imortalidade" que nos dava a sensação de ter todo o tempo do mundo. Hoje sem que esse todo tempo é apenas um átimo.

segunda-feira, 27 outubro, 2008  
Blogger Ari disse...

SEI que esse tempo...

segunda-feira, 27 outubro, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

Acho que já disse isso, mas... depois de um tempo a gente não passa a pensar só nela, a morte, mas também no COMO ela virá. E cmeça a desejar a todos uma BOA MORTE. A confraria da Nossa Senhora da Boa Morte tá certa. Certíssima! E duvido que alguma delas tenha lido Heiddeger...

terça-feira, 28 outubro, 2008  
Anonymous Anônimo disse...

eu sempre tô com pressa... vai que a manhã dou um tropeço e puft! ... viro alma e vou pro céu. (será que é pro céu mesmo?)

terça-feira, 28 outubro, 2008  
Blogger Ari disse...

Mas, Ró... o povo sempre é sábio. O que os filósofos dizem em grandes elucubrações e profundas (e complicadas) construções frasais, o povo diz assim: pá-buf! Simples. Tenho até um projeto de um livro que discorre sobre os grandes pensamentos, as grandes abordagens filosóficas e os seus equivalentes na sabedoria popular.

terça-feira, 28 outubro, 2008  

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