terça-feira, fevereiro 23

ASSIM É FREUD

Fico puto quando, vira e mexe, me enviam um texto de uma mulher que se diz psicóloga, falando sobre Cazuza, no qual, dentre diversos outros absurdos ela diz que "reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível", e babaquices do tipo: "Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissessem NÃO quando necessário?"

Psicologia mais barata que essa você não encontra nem mais em almanaques. Essa senhora, no mínimo, deve ser daqueles profissionais que "curam" homossexuais.

Ele, o fantástico marginal, com certeza, diria a respeito desse assunto:

 

"... Não ligue pra essas caras tristes
Fingindo que a gente não existe
Sentadas são tão engraçadas
Donas de suas salas..."

 

Um cara que, com 23 anos escreve uma letra como a de Todo Amor que Houver Nessa Vida pode ser o que quiser. E pode ser chamado do que for, de "ladrão, bicha, maconheiro" por esses falsos moralistas que, eles sim, "transformam o país inteiro num puteiro...", com seus ideais otários de felicidade, suas religiões hipócritas e seus tapetes persas legítimos ou imitações baratas sob os quais acumulam muita sujeira.

Todo Amor que Houver Nessa Vida

Frejat/ Cazuza

 

"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria"

 

 

BOM SABER

A respeito das novas regras para o teleatendimento, uma grande desvantagem para o consumidor acionar uma empresa é o fato de não possuir mecanismos para gravar a conversa telefônica.

As empresas continuam apostando na preguiça do brasileiro em acionar a justiça e insistem em nos torturar com uma espera infernal.

O que tem de novidade (ao menos para mim) é que o consumidor pode pedir uma cópia da gravação em mídia (disquete/cd) ou via e-mail e, segundo essas novas regras, a empresa é obrigada a atendê-lo no prazo de até 5 dias úteis, salvo engano.

 

segunda-feira, fevereiro 22

BOA LITERATURA

"Os anos transcorrem silenciosos, na ponta dos pés, zombando da gente em sussurro, e de repente nos assustam no espelho, nos acertam nos joelhos e nos cravam um punhal nas costas. A velhice nos ataca dia após dia."

(Isabel Allende em A Soma dos Dias)

 

Gosto muito do texto de Isabel Allende. É um texto fácil sem ser simplório. Ao contrário, sua forma de expressar sentimentos e descrever situações é extremamente lúdica e criativa.

Essa forma de abordar a passagem do tempo, por exemplo, é algo em que sempre pensei, mas nunca consegui traduzir em palavras como magistralmente fez o grande Quintana:

 

"A vida é um dever que trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê já são seis horas há tempos...

Quando se vê já é Sexta-feira...

Quando se vê passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

Se me dessem um dia outra oportunidade,

Eu nem olhava o relógio,

Seguia sempre em frente

E iria jogando pelo caminho

A casca dourada e inútil das horas..."

 

Conheci recentemente outra escritora sul-americana - colombiana, se não me engano -, chamada Laura Restrepo, através do seu livro Delírio (Companhia das Letras), onde se percebe uma nítida influência de Garcia Marques, porém com independência e criatividade.

Latino, ainda que não sul-americano, o cubano Pedro Juan Gutierrez também é uma boa pedida.

 

quinta-feira, fevereiro 18

REBOLEICHON

Então... acometeu-me certa falta do que dizer, uma forte tendência a deixar o dito pelo não dito.

O Haiti foi detonado, Angra dos Reis também, Madonna veio e foi, veio e foi, veio e foi, o filho de Ivete nasceu, Pedro Bial voltou, Beyoncè veio, Arruda escancarou, foi preso. O carnaval chegou, o reboleichon aconteceu, o lobo mau quis comer todo mundo. Tatau e Carla Perez não cantaram. Ivete e Marcio Vitor cantaram. Enfim... tantos fatos importantes e nenhum foi suficiente para me inspirar a escrever.

Aí, tô eu aqui, agora, tentando encontrar um tema para discorrer e nada me ocorre, já que tudo concorre para o silêncio.

Caluda! Em boca fechada não entra mosquito e eu não quero saber de porra de fuxico com o meu nome.

Mas, hoje é "quinta-feira de cinzas" e o carnaval que eu não brinquei me causou sérios estragos via TV.

O estrelato baiano, essa plêiade de talentos estelares, aumenta a cada ano, seguido da "invenção" de novos passos, novas danças que, na verdade, de novos não têm nada. A última real novidade da qual me recordo na coreografia axesística foi a do fricote de Luiz Caldas, em 1986.

Ali, sim, era novidade. Horrível, é bem verdade, mas novidade. Sacudiam-se os dois dedos indicadores e abaixava-se até o chão, voltando e levando os dois dedinhos para o alto, sobre a cabeça, e chão de novo e assim consecutivamente. Pra quem não estava com um bom preparo físico, era pior que comer tatu: dava uma dor nas costas terrível.

Daí em diante, por imposição marketeira, a cada ano diz-se que existe uma nova dança. Aí, veio a do carrinho de mão, a da boquinha da garrafa, a do jacaré, a do bumbum e lá vai, lá vai lá vai.

Este ano foi a tal da reboleichon, uma dança sem nenhuma novidade, sem nenhuma criatividade, igualzinha a dança do comercial/jingle da rádio Bahia FM, que foi ao ar no ano passado ou retrasado. O grande mérito do fenômeno reboleichon talvez venha a ser a sua inclusão no Guiness Book, não como dança, mas como música de apenas duas palavras: reboleichon e chon-chon: "o reboleichon, o reboleichon chon-chon", sacaram?

No mais, as escolas de samba do Rio e suas mesmices e os blocos baianos, suas estrelas e seus turistas branquelas, além dos veículos de comunicação fazendo uma cobertura idêntica a dos demais carnavais. Salamaleques e confetes entre artistas e "jornalistas".

Ainda bem que vi alguns filmes bacanas, como O Visitante, Bernard & Doris, This is It, O Suspeito, Inimigo Público e outros mais.

Porque, feliz ou infelizmente, nem só de reboleichon vive o homem.