quarta-feira, outubro 14

QUENTIN TARANTINO

Existem algumas coisas na vida a respeito das quais a gente acha que nada mais de novo pode ser dito ou feito e que já vimos tudo sobre o assunto.

No cinema e na literatura venho me sentindo saturado por dois temas: apartheid/racismo e nazismo. Prometo não ver nem ler nunca mais filmes ou livros sobre esses temas, em razão do incômodo que provocam (quem viu filmes como Hotel Luanda, No Calor da Noite, A Lista de Schindler, por exemplo, sabe do que estou falando).

Ainda bem que não cumpro esta promessa, senão teria perdido um dos filmes mais sensacionais dos últimos tempos: Bastardos Inglórios (Inglourius Basterds), de Quentin Tarantino.

Tarantino, já no arriar das malas, chamou a minha atenção no seu filme de estréia (ao menos no Brasil), Cães de Aluguel (Reservoir Dogs) por apresentar um estilo único de fazer cinema. No filme, as cenas de violência são as mais memoráveis que já vi, ganhando até daquela da cabeça do cavalo ensanguentada na cama de um inimigo de Dom Vito Corleone, em O Poderoso Chefão, de Copolla.

Sensacional obra de ficção sobre um fenomenal atentado ao führer e toda a primeira linha do seu staff, Bastardos Inglórios é daqueles filmes que só não aplaudimos no cinema por timidez (a primeira vez que vi a platéia aplaudir uma exibição cinematográfica foi em Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber e lembro que não aplaudi e ainda fiquei com vergonha pelas pessoas que aplaudiam já que nem diretor nem elenco estavam presentes – relevem, eu tinha 14 anos apenas).

O austríaco Christoph Waltz (melhor ator em Cannes/2009) rouba a cena interpretando o coronel nazista Hans Lada, cujo perfil psicológico é apresentado logo no início do filme em uma sutil e impressionante técnica de interrogatório no quase monólogo sobre a aversão humana instintiva aos ratos. E este é um dos inquestionáveis talentos do diretor/roteirista.

Um elenco primoroso que deixa transparecer o prazer, o empenho e a satisfação em compor e dar vida a personagens de um grande filme, criados por um grande diretor/roteirista.

Brad Pitt, espetacular, nos faz até esquecer que ele é o bonitão sortudo casado com La Jolie.

Claro que, como em quase todos os filmes do diretor, a violência é porradão, mas, como até mesmo em Cães de Aluguel, não agride de uma forma tão intensa e este é outro dos tantos talentos de Tarantino, contextualizar a violência na obra cinematográfica de uma forma, eu diria, quase técnica e alcançando algo próximo à perfeição.

Na sua filmografia onde já constam obras do quilate de Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Jackie Brown, A Cidade do Pecado, dentre outros, Bastardos Inglórios vem, sem nenhuma dúvida, ocupar um merecido lugar de honra.

Pena que a história, nesse caso, seja  somente ficção, porque, confesso, dá uma vontade danada de que tivesse acontecido conforme magistralmente criado por Quentin Tarantino.