MICHAEL FOREVER
A morte de M. Jackson reforçou uma percepção que eu tinha a respeito do sentimento das pessoas em geral, com relação ao pop star.
Tudo bem que, depois de morto, todo mundo é gente boa. Inclusive, na cobertura da Globo News, enquanto não se confirmava oficialmente a morte do cara, os comentaristas falavam unicamente dos aspectos negativos, os escândalos, as mutilações físicas, a síndrome de Peter Pan, a falêncai financeira, etc. Pois bem, assim que foi confirmada a morte, os elogios ao talento, à criatividade, à genialidade do artista passaram a ser a tônica dos comentários. Impressionante!
Michael Jackson, assim como Elvis e tantos outros, foi vítima de um sistema cruel representado pelo show business.
Ainda criança, foi alçado à merecida condição de ídolo, pelo enorme talento que demonstrou.
Daí em diante, esse talento somente aumentou e o guri negro e engraçadinho transformou-se em um adolescente e um adulto (se é que se pode usar esta definição em relação a Michael Jackson) extremamente talentoso, batendo todos os recordes de vendagem de discos e de permanência nas paradas de sucesso.
Os caprichos de criança mimada foram se exacerbando ao ponto de fazê-lo acreditar que podia tudo, inclusive ser outra pessoa, de outra etnia, de outra raça e, quiçá, de outro sexo.
Teve início o processo de mutilação. Queria se parecer com a cantora Donna Summers, em versão branca. Não se sabe o número de cirurgias e tratamentos aos quais se submeteu. Fato é que, ao final, ao invés de sósia de Donna Summers, ele ficou a cara da macaca Zira, do filme o Planeta dos Macacos (na segunda versão, com Elizabeth McGovern).
Às esquisitices do astro seguiram-se os escândalos.
Pedofilia! Crime hediondo, execrável e execrado por toda a sociedade.
No entanto, no caso de Jackson, me parece que houve uma certa complacência por parte de todos nós. A ele sempre foi concedido o beneplácito da dúvida.
Talvez, a chamada e explícita Síndrome de Peter Pan em Michael fosse tão evidente que, ao imaginá-lo na cama com uma criança, fossemos induzidos a pensar que, na verdade, eram apenas dois meninos "brincando de médico".
Neverland, a Terra do Nunca, onde se permanece eternamente criança.
Nós também nos convencemos disto. Michael Jackson era uma criança perdida, desencontrada, desestruturada, mas incrivelmente genial.