ARREPENDEI-VOS E CREDE
Existe um grande perigo quando um veículo de comunicação ultrapassa o limite do seu compromisso com a verdade, assumindo o papel de seu legítimo e único proprietário (dela, a verdade).
Esse parece ser, cada vez mais, o tipo de jornalismo praticado pela Revista VEJA.
Virulenta, pretensiosa, desrespeitosa, tendenciosa, a linha editorial no estilo "nós somos o caminho, a verdade e a vida", utiliza-se claramente do perigoso poder da imprensa para exercitar esse seu pendor para a catequese ideológica.
Nesse processo, debocha-se do trabalho de artistas como Milton Nascimento, por exemplo. Ridiculariza-se a atuação da resistência à ditadura militar no Brasil, tratando como verdadeiros "garotos Paissandu" homens e mulheres que, certos ou errados, deram a sua vida por um ideal de liberdade e arvora-se, do alto de uma suposta autoridade, no direito de determinar o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim, o que é virtude e o que é vício. Quase uma Bíblia.
E tudo isso sem o aprofundamento jornalístico necessário a uma abordagem séria sobre qualquer assunto e, pior, dispensando cada vez mais opiniões e pareceres de especialistas nesses temas.
No seu último número, que trata da questão da dependência química, a revista faz afirmações tais como:
"VEJA continua, assim, a cumprir seu papel de conscientizar os leitores do poder maligno dessas substâncias ilícitas que cancelam existências, arranham biografias, degradam as cidades e comprometem o futuro de países inteiros. Essa é a verdadeira visão politicamente correta."
Ipsi literi, sem tirar nem por.
Conscientizar os leitores???... Será esse o papel de um veículo de comunicação?... Ao invés do papel de conscientizar, não seria, em se tratando de um jornalismo sério, o papel de informar com isenção?
Conscientizar... do poder maligno dessas substâncias ilícitas???... E as substâncias lícitas, como o álcool, a nicotina, as drogas vendidas em qualquer farmácia, a VEJA não vai conscientizar os leitores? Ou será que essas não têm o tal do "poder maligno"?
Xô, Satanás!
O que se está fazendo é jornalismo ou pregação religiosa?
Aliás, essa pretensão de conscientizar é e será sempre muito perigosa por pressupor a exclusividade na detenção da verdade. E, quanto a isso, a revista não deixa margem de dúvida, ao afirmar: "Essa é a verdadeira visão politicamente correta."
Entenderam?... A VEJA disse, a VEJA sabe.
Vejamos outro trecho, esse da Carta ao Leitor:
"Elas (as drogas ilícitas) matam 200.000 pessoas por ano. Só no Brasil, há 870.000 usuários. No âmbito privado, a dependência química acaba com relacionamentos e inviabiliza o trabalho. É uma doença. Ponto."
Entenderam agora? A VEJA falou e... Ponto.
Preocupa, sobremaneira, o fato de um veículo de grande penetração deixar-se seduzir pelo ilusório brilho do chamado quarto poder, esquecendo-se da sua verdadeira função (repito, a de informar com isenção) e assumindo o direito de propriedade exclusiva da verdade.
As conseqüências nefastas de tal postura, pode-se imaginar.
Na mesma edição, na seção Leitor, podemos ter uma pequena mostra dos estragos que esse tipo de jornalismo megalomaníaco pode causar:
"VEJA errou ao dar um Desce para o Colégio Visconde de Porto Seguro (seção Panorama, edição 2 086, 12 de novembro) sob a justificativa de que "a escola paulistana obrigará os alunos a assinar um panfleto de propaganda petista". As informações de que a revista dispunha sobre o assunto não eram sólidas o bastante para fazer tal afirmação. VEJA se desculpa com a direção, professores, alunos e pais de alunos pelo julgamento curto e drástico passado sobre as escolhas didáticas de uma instituição com 130 anos de tradição do melhor ensino
A revista pede desculpas, é bem verdade. E até coloca o escudo do colégio ao lado da nota. Agiria assim com qualquer empresa levianamente por ela atingida ou esse colégio tem algo de mais especial? Não sei...
Porém, o mais importante é o aviso contido na nota de desculpas:
"A questão da doutrinação (referindo-se ao que chama de propaganda petista) a que estão sendo submetidos os alunos de tantas e boas escolas brasileiras é bem mais séria e não pode ser objeto de uma nota breve."
Portanto, vê-se que os paladinos da verdade e da justiça, como bons escoteiros que são, permanecerão sempre alertas.
Portanto, irmãos, arrependei-vos e crede na VEJA.
5 Comentários:
É isso aí, Ary. A veja não entra em minha casa.
Aqui no sul, um humilde dono de uma banca de revistas em POA, rebelou-se. Revoltado com as barbaridades publicadas, "expulsou" a revista da banca. Não vende VEJA!
Na minha casa tb não entra, Maria!
Aqui, Maria é assinante.
a veja é uma revista criminosa.
não lembra da capa de Che Guevara? Vou colar aqui um pedacinho do texto:
"Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de
lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao
e Fidel Castro. (...) VEJA conversou com historiadores, biógrafos, antigos
companheiros de Che na guerrilha e no governo cubano na tentativa de entender como o rosto de um apologista da
violência, voluntarioso e autoritário, foi parar no biquíni de Gisele Bündchen, no braço de Maradona, na barriga de Mike
Tyson, em pôsteres e camisetas."
e a melhor das versões ao estilo "Xô Satanás" foi a edição de 27 de fev deste ano, sobre a transição do governo cubano de Fidel para o irmão. Lembro de estar saindo com uma amiga jornalista de um café na avenida Paulista, qd paramos na banca de revista e demos de cara com uma capa que trazia a sombra de Fidel, com a seguinte chamada de capa: Já vai tarde.
Cara, que porra de jornalismo é esse? "Já vai tarde?". Parece um bate-boca de nigrinha ali na esquina. O texto dizia:
"Todo político tem de ser bom mentiroso. Para ser Fidel é preciso, no entanto, ser um grande farsante. Ele é um dos maiores que a história conheceu. É presidente de uma nação paupérrima, mas vive como um cônsul romano que come lagostas quase todos os dias. (...) Desde os primeiros momentos da revolução que o levou ao poder, em janeiro de 1959, Fidel mostrou a utilidade política de um grande fingidor."
na íntegra, a quem interessar possa: http://veja.abril.com.br/270208/p_068.shtml
Tenho asco.
Fale pra Maria assinar a Marie Claire.
Ari, também não gosto de Veja. Lembram da capa sobre Cazuza? E a arrogância de Mainardi?
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