Maria Sampaio achou bacana. Rosana comentou. Tá ligada no lance. Quer dizer, botaram pilha. Aí, me animei.
Nas aulas de marketing, bê-á-bá mesmo, a gente aprende que grande parte do sucesso dos empreendimentos consiste na visão do inusitado. No "chegar na frente", apresentando um produto ou serviço inédito ou, ao menos, bastante diferenciado.
Na idade em que me encontro, caminhando pra o terceiro "enta", um programa mais ou menos corriqueiro é a ida ao enterro dos pais dos amigos e dos nossos, também.
Lei natural do andar da carruagem.
Rapaz! Não tem coisa menos criativa do que enterro. Tudo bem, hoje já existe, em Salvador, a possibilidade da cremação que eu acho bem mais moderno (apesar de ser muito antigo).
Mas enterro mesmo, daqueles de se pegar na alça do caixão e levar para a "última morada" é muito sem graça, repetitivo. Quem viu um viu todos.
Varia um pouco a lenga-lenga do padre (me ocorreu agora, que nunca fui a enterro de "crente"... será que eles não morrem?...), a reação de familiares e amigos.
Mas essa reação muda somente em relação à classe social do defunto e sua entourage. Nós, da classe média, por exemplo, adotamos um comportamento meio tipo assim americano, saca? Tipo assim, sofrer com elegância. Dar vexame, pití, jamais!!! Nem mortos!
Já nas classes menos privilegiadas, a coisa é mais intensa. Chora-se mais e mais ruidosamente, e não é raro uma manifestação mais calorosa do tipo: "O que será de mim, agora, meu deus?!!!... Não me deixe, fulano(a)!... eu quero ir com você..." E coisas do tipo.
Uma vez, num velório de um motorista do meu antigo trabalho, na hora de colocar a tampa, a esposa se jogou em cima do caixão com tamanha determinação, que o morto foi parar no outro lado da sala, rolando pelo chão. E ela atrás.
Pois bem, voltando à vaca fria, o papo de marketing, visão, nichos de marcado e coisa e tal, andei pensando em iniciar um negócio no ramo de funerais, tipo alternativo, para pessoas ousadas, modernas, vanguardistas até à morte.
Ora, por que é que todo caixão tem que ter aquele aspecto pesado, lúgubre? Por que não se fabricar caixões nas mais diversas cores e matizes? Azul, vermelho, amarelo, cor-de-rosa, verde limão e até mesmo fúcsia?...
Caixões com estampas? Listados, quadriculados, de bolinha?... Caixões artísticos, plotando-se cópias de obras de arte ou, até mesmo, uma obra de arte criada no próprio caixão (esse aí, pro pessoal nível daniel dantas, políticos e celebridades, né?). Caixões sexys, com fotos sensuais da gata ou do gato preferido do decujus (ou decujas). Enfim, um leque de opções a ser explorado nesse nicho de mercado.
Por que não oferecer diferenciais como música? De todo tipo. MPB, clássica, sertaneja, forró, axé, pagode, etc? Um esquete teatral, uma performance?... Um sarau literário?...
Já tenho até sugestão para o nome da empresa: Funerária Arco-Íris. E algumas sugestões de slogan: "Funerária Arco-Íris, porque se a sua viagem não pode ser ao vivo que seja, pelo menos, a cores". Ou, então: "Funerária Arco-Íris, porque uma boa viagem tem que ser colorida".
Já estou pensando até em ir ao SEBRAE. Começar tipo pequenas empresas grandes negócios e depois expandir. Afinal, morre-se a toda hora.
Deu pra perceber o enorme potencial desse mercado ainda inexplorado?
Quando falo desses planos pra Maria, ela não me leva a sério.
Taí uma grande idéia. Procuro sócios. Pessoas de visão e que não sejam daltônicas. Já pensaram a confusão? Dois daltônicos num negocio desse?... Quem é doido?...A madame pede pro caixão do falecido um verde jade evanescente (seja lá o que for isso) e, na hora agá, ta lá o cara, mortinho da silva santos, num vermelho incadescente.
Falência certa. Caixão e vela.