Não sei se é certo classificarmos os amigos por categoria. Por vezes tendo a pensar que amigo é amigo e pronto. Mas, existem algumas pessoas que, em princípio, não podem não preencher alguns requisitos básicos para serem considerados amigos e, no entanto, os sentimos como tal.
Um desses requisitos, sem dúvida, é a convivência. Claro. Como ser amigo de alguém com quem você não convive e nunca conviveu mais estreitamente?
Sei lá. Fato é que algumas pessoas parecem prescindir dessa condição para que as tenhamos como amigas. Por isso é que falei na questão da categoria de amigos.
Amigos de infância, amigos de trabalho, amigos de internet, amigos do bairro, amigos da escola, amigos da família, amigos-irmãos, e até os amigos-ursos, todas essas formas de amizade pressupõem uma considerável convivência.
Mas tem lá aquela figura com a qual você pouco conviveu, mas que alegra o seu coração à simples lembrança. Aquela criatura em quem você pensa com carinho, desejando que a vida lhe reserve sempre o do bom e do melhor.
Falo isso, mais precisamente, a respeito de uma amiga que fiz no primeiro dia do tratamento da hepatite C. Nos encontramos poucas vezes, já que, mesmo durante o tratamento, os nossos horários nem sempre coincidiam. Mantivemos contatos internéticos, telefônicos, sempre torcendo pelo sucesso do tratamento do outro. Eu, como se sabe, tive que suspender o tratamento na 24ª semana, por recidiva do vírus. Ela completou o tratamento e, ao final da 48ª semana, teve o vírus NÃO DETECTADO.
O protocolo do tratamento da hepatite C prevê um acompanhamento durante 4 anos, sendo o primeiro exame realizado após 6 meses da conclusão.
Minha amiga me ligou ontem, me informando que o vírus foi novamente detectado. Que merda!
Lembrei da minha frustração com o fracasso do meu tratamento e com o impedimento de participar do teste da nova droga. Pude imaginar o quanto a minha amiga estava frustrada. E fiquei triste por ela, por mim... por nós.
Mas não uma tristeza de coitadinhos de nós, mas aquela tristeza natural que é inevitável sempre que alguma coisa que desejamos muito não acontece.
Mas o que fizemos os dois ao telefone? Xingamos os sacanas dos vírus e rimos muito das nossas próprias desditas. E isso é, para mim, uma capacidade fantástica: rir da própria miséria.
Fiquei sabendo, por exemplo, que ela sabe o dia e a hora em que foi contaminada. Daí, sugeri que ela fizesse o mapa astral do vírus para ver se está acontecendo alguma conjunção de Plutão com Saturno na casa 9 e, também, para precisar o período em que ele vai estar no seu inferno astral (lá dele), já que essa me parece ser a ocasião propícia para tampálaporra nele.
Pois, então... Estamos, ambos, de volta à estaca zero, o que, se pensarmos bem, não é assim tão ruim, já que, em se estando em zero, não dá pra baixar mais. Ou será que dá?... Menos 1, menos 2, menos 3... Xiiiii!!!
Mas não será assim. Hoje mesmo já marquei consulta com a minha antiga médica para ouvir uma segunda opinião e minha amiga ficou de marcar com o seu médico para definirem novas estratégias.
Pois e... essa é a minha amiga da categoria, digamos assim, virótica (kkkkkkkk). Uma grande amiga a quem quero muito bem e desejo tudo de bom. E sei que a recíproca é verdadeira.
No mais, é sacudir a poeira e... força na peruca!